"...no desalinho triste das minhas emoções confusas..."






03/08/2011

"Não se afobe não,

Estava perdida, literalmente perdida. Não sabia onde estava. Havia saído para comprar pão para minha avó e ao virar a esquina me perdi. Esse era um dos meus defeitos mais aparentes: distração. Virei esquina ali, outra aqui, subi lá e cheguei cá. Que lugar estranho e tentador era este? O céu chamava-me para entrar. O que poderia fazer a não ser me render?
Via formas e cores que me despertavam curiosidade até o fim do dedinho do pé. Estava indo com a coragem dos loucos, embora ainda confusa se aquilo não passava apenas de um sonho. Pensei em beliscar-me para ter a certeza de estar lúcida ou não, mas não queria que sumisse de repente aquilo que via.
- Ei, olhe por onde anda! – um som distante me alertava. Grudei os pés no chão e procurei o dono da fina voz. – Aqui em baixo!
De relance me assustei. A voz pertencia a uma aranha. Sim, uma aranha. Uma aranha bela, pude perceber ao agachar para a ouvir melhor.
- V-você fala! – disse surpresa, mas não por isso maravilhada.
- Mas é lógico que falo! Vocês humanos se dizem tão inteligentes, mas tem um cérebro tão limitado...
- Desculpe-me pelo espanto! É que eu nunca cheguei a ver um animal que falasse... Mas digo-te que nunca duvidei! – justifiquei-me com as palavras ingênuas que achei. – Desculpe-me também por quase pisoteá-la! É que estou perdida. – continuei, um pouco preocupada ao lembrar-me de que não fazia ideia da onde estava.
- Perdida como? Encontra-se na Realidade.
- Exatamente... Não sei onde isso fica! Não sei onde estou. Só sei que estou perdida.
- Perdida não está, isso posso lhe garantir. Você nunca está perdida, pois sempre se encontra em algum lugar.
- Mas... Esquece. Pode-me dizer como volto para casa? – perguntei.
- Por que tens pressa? Mal chegou...
- Bem, vovó daqui a pouco notará que estou demorando a voltar...
- Fique mais um pouco, a vida não tem pressa.
- Pois a minha tem! – disse aborrecida com sua calma e delicadeza.
- Então, posso lhe dizer que não vives.
- Como ousas dizer que não vivo? É claro que vivo! – bufei.
- É simples: se tens pressa não vive. Não se pode ter pressa... E não existem ocasiões à parte. Apenas tem que se seguir o ritmo das coisas...
- Olha, sinto em lhe contrariar, mas preciso realmente ir rápido. Minha avó está esperando o pão e...
- Já tive pressa também. – deu uma leve gargalhada, que me irritou um pouco mais. – E se você quer saber de uma coisa é que perdi muito tempo. Pois o tempo não se sabe se é curto ou grande, então não pode deixar nada passar por pressa. Tem que ter cautela, tem que ter sentimento, tem que botar toda a alegria num simples ato.
- Por que achas isso? – deixei a curiosidade ser maior que o desprezo.
- E se essa sua ida a padaria fosse o último momento de sua vida? Preferiria ir com calma, ouvindo o som das pessoas andando, sentindo o cheiro das coisas e não deixando uma vírgula passar; ou preferiria simplesmente ir?

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